sábado, 31 de outubro de 2009

Considerações da Bioenergética sobre doença cardíaca


A doença cardíaca é um processo que não acontece simplesmente, mas que, em muitas circunstâncias, é influenciado por fatores emocionais e por conflitos inconscientes. O coração é um símbolo poderoso no pensamento humano. O termo latino cor, fornece a base para o termo cerne, definido como a parte central de um objeto. Vemos que expressões como “uma pessoa teve uma mudança no seu coração” sugere que toda sua postura existencial passou por uma transformação. Nas religiões, temos que Deus reside no coração. E na infância, quando o amor irrestrito de um bebê por seus pais se depara com algum tipo de rejeição, a dor subseqüente só pode ser descrita com o termo “coração partido”, provocando uma sensação de ameaça à sobrevivência e, por vezes, pânico. Formas de defesa contra a dor e o medo são desenvolvidas pela criança, em uma situação como esta. Fazem a pessoa, desde pequena aprender a suprimir os sentimentos e sensações de hostilidade, anseio, tristeza e medo envolvidos, e a partir destes mecanismos encontraremos os fatores comuns na instalação da doença cardíaca . A rigidez é o principal mecanismo utilizado no controle inconsciente de sentimentos e sensações. Instala-se pelo tensionamento dos músculos voluntários do corpo, para que os impulsos sejam proibidos de seguir o caminho natural da manifestação. Para bloquear o impulso para chorar, o rosto se contrai; para refrear o impulso de dar um soco, os ombros e as costas se tensionam. Quando as tensões se cronificam, o impulso bloqueado não chega até a superfície do corpo, ou consciência. A autopercepção tornou-se limitada. Quando esses sentimentos são retidos da consciência, a pessoa os volta contra si mesma e se torna autodestrutiva, além de impedir que ela peça o que quer ou diga não a uma solicitação descabida. Para algumas pessoas, um ataque no coração pode parecer a única saída para escapar aos estresses e tensões de uma existência oprimida e também como última alternativa para se livrar e conseguir efetuar mudanças positivas em sua vida. As emoções são atividades involuntárias do corpo, vêm do cerne do nosso ser e têm uma íntima relação com o coração. A rigidez pode atingir o organismo em muita profundidade, afetando os músculos involuntários. Quando está instalada nos vasos sanguíneos periféricos, provoca hipertensão, problema que causa um estresse tremendo no músculo cardíaco e está consagrado como fator de risco para doença coronariana. Quando essa rigidez acomete os próprios vasos coronários, onde se associa à formação de placas ateromatosas que estreitam o calibre dessas linhas vitais de suprimento, está-se diante de um sério risco de ataque cardíaco fatal. Toda tensão crônica do corpo é um sinal de algum conflito do início da vida que deixou a pessoa com um medo não resolvido. Este temor precisa ser elaborado e eliminado para que o indivíduo possa manter seu coração aberto à vida. No nível psicológico, é necessário que a pessoa entenda a natureza do problema e suas causas. Isto implica uma análise cuidadosa que o ajude a entrar em contato com as experiências de sua infância. No nível corporal, existem tensões musculares crônicas específicas como na frente do peito, processo que bloqueia os anseios e nas costas que imobiliza a manifestação da raiva. Em um programa de tratamento Bioenergético, essas tensões devem ser desbloqueadas em grau significativo, juntamente com a análise psicológica, para que o funcionamento saudável seja estabelecido. Os exercícios Bioenergéticos ajudam a pessoa a superar seu receio de entregar-se a seus sentimentos e sensações, podem desencadear mudanças duradouras e de longo alcance no comportamento e na sua personalidade. Só podemos amar a nós mesmos, contudo, se respeito, dignidade, honestidade forem os valores pelos quais nossa vida se pauta. Responsabilidade não quer dizer estar sobrecarregado ou ser obrigado.

Trechos do Livro: "Amor, Sexo e seu coração" - Alexander Lowen, São Paulo - Summus, 1990